A Árvore

Era uma vez uma terra em que o céu era completamente negro, e a iluminação ficava por conta de uma grande árvore cujos ramos se estendiam por toda parte e cujos frutos brilhavam como estrelas. Nesta terra, vivia um menino com seu pai, um carpinteiro. Seu pai usava da madeira da grande árvore para fazer seu ofício, e como as pessoas estavam em sintonia com a natureza, nunca faltava recursos, e tudo sob os ramos da árvore estava bem.

Porém, um dia, o pai morreu, e o menino ainda não tinha idade o bastante para o assumir o ofício. Saiu então pelo mundo, mendigando. Quando estava prestes a morrer de fome, um corvo pousou no seu ombro, e deu-lhe um pedaço de carne crua. O corvo então desfez-se em chamas, e do fogo o menino fez uma fogueira para assar o pedaço de carne. Satisfeito, o menino continuou sua jornada, mas antes de partir, percebeu que nas cinzas de sua fogueira havia um pequeno ovo de pássaro. Decidiu levá-lo consigo.

Chegou, enfim, ao pé da grande árvore, pois para lá todos os caminhos levavam. Contava-se uma história em que os mortos se tornavam os frutos da árvore sagrada. O menino, saudoso do pai, decidiu subir a árvore. Durante a subida encontrou povos mágicos que viviam entre os ramos da árvore, que o acolheram e o alimentaram, antes que ele partisse novamente. Subiu por muito tempo, até que não era mais um menino e sim um homem feito.

O sábio do último povo que encontrou durante a subida lhe advertiu: “pare de subir, meu jovem. No topo da árvore há um monstro que não pode ser libertado, e que o induzirá a fazê-lo caso entre em sua zona de influência.” Mas o homem não ouviu, e continuou a subir. No entanto, perto do fim da subida, estava mais uma vez morrendo de fome. Tudo o que lhe restara foi o ovo do pássaro, que nunca chocara depois de todo esse tempo. Quebrou o ovo e o engoliu, cru. Foi tomado de uma vertigem e uma estranha dor nas costas, mas continuou a subir.

Quando os frutos mágicos estavam quase ao alcance da mão, o homem avistou um corvo do tamanho de um homem, com três pregos que o prendiam na grande árvore em formato de cruz: um em cada asa e um e no pescoço. “Sou o príncipe deste mundo” disse ele. “Liberte-me, e eu lhe concederei seu maior desejo”. O homem, que tanto queria reencontrar seu pai, soltou o corvo. Este, no entanto, disse: “Tolo. Farei agora de você minha primeira refeição em muito tempo”. O homem, tentando fugir, acabou caindo da árvore. No entanto, enquanto caía, a dor nas costas tornou-se excruciante, e asas negras se projetaram de suas omoplatas, num espetáculo de penas e sangue. Com muito custo aprendeu a voar e dirigiu-se novamente ao pico, levando como arma uma enorme lasca de madeira, que arrancou da árvore.

Depois de uma batalha feroz, conseguiu matar o demônio. No entanto, num último ato desesperado, o corvo gigante colocou fogo no próprio corpo, numa grande explosão. A árvore ardeu em chamas, intensificadas pelo líquido da vida que corria por seu interior e dava luz aos seus frutos. O homem, ferido de morte e arrependido do que havia feito, usou suas últimas forças para levar ao firmamento dois frutos da árvore: o que estava mais próximo da explosão e o que estava mais distante, e que são hoje o que conhecemos como o Sol e a Lua. Já as cinzas eternamente brilhantes da árvore foram levadas pelo vento, e se tornaram as estrelas que povoam o céu.

 

Sobre a obra

Eu estava lendo o livro Interpretação dos Contos de Fadas da von Franz, e me veio a ideia de fazer um experimento. Fui escrevendo a história da forma como as Musas me ditaram, e depois eu parei para ver com mais calma o que havia de arquetípico no que eu escrevi e também as influências mais reconhecíveis. Mas depois que você escreve, a obra já é maior do que você, então eu gostaria de ouvir como esse conto chega em outras pessoas. Com certeza as diferentes visões ultrapassariam em muito minhas inspirações iniciais, e essa é a riqueza de compartilhar nossas artes, na minha opinião!

O criador

Gabriel F. Lopes
Escritor
Aluno da Turma XXII

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