Dizem que a morte está para todos e que ela também não é antagônica a vida. São, de fato, o mesmo caminho. Talvez, o que se tenha dela seja uma consciência maior do que aquela que temos ao nascer – que também pode preceder de uma “morte”, da vida intrauterina para o universo além.
Se diz, também, que a morte já nos aguarda e sabe exatamente a hora do encontro. Ao que penso, e se o homem tentasse burlar esse encontro? O que seria então o ato de tirar a própria vida? Se estaria, dessa forma, enganando a morte?
Porém, ela sabe todos os caminhos e é aquilo que é em todos os tempos e caminhos do homem. Se ela é uma projeção do que pensa a humanidade ou um só homem sobre o que o espera ao morrer… Acredito que ela estará lá.
Aguardando…
Aguardando…
Aguardando…
Como uma companheira muito antiga e que esteve sempre ali e você nunca percebeu. Como uma amizade de longa data que não precisa proferir palavras para que você saiba o que está pensando e o que necessariamente acha do que está prestes a fazer. “A hora não é essa mas, se pensa que é, estarei aqui”.
E essa talvez seja a presença mais perturbadora que possa obter nesse caminho e trajetória escolhida, porque ela demonstra que não existe essa solidão aterradora que seus pensamentos insistem em lhe dizer que existe. Pontuando em palavras silenciosas dita por olhares de que “não, não estamos sós”.
E nesse vislumbre, nesse ecoar de asas que arrastam certezas duvidosas, não só o corpo mas, a mente, a alma e o espírito começam a se preparar para o caminho de volta. Por que? Porque não é a hora.
Os Perpétuos são o que de mais visceral que há no homem – aquela crueza mais profunda que existe no ramificar de todos os seus sentidos – por isso, existem, por isso, vivificam o existir da própria humanidade. Por eles traçamos nossas loucuras, nossos desejos, nossas ruínas, nossos medos e nossos sonhos e, com eles, caminhamos. E encontramos sentido e encontramos o sentir e saímos do estrondoso vazio que pode ser a ausência dos significantes.
Então, não é a hora, o encontro com a encantadora donzela pode aguardar. Esqueça o aterrador vazio da solidão e se embriague de sentidos construídos e de prazeres calculados até que o encontro verdadeiro se concretize.
Sobre a obra
O pequeno texto/conto se trata de um pequeno esboço dos pensamentos e reflexões atuais iniciados ao ter contato com a obra de Neil Gaiman – Sandman, não só com a série, mas também com os quadrinhos, em conjunto com os encontros do Paideia sobre o mesmo. Assim, a cabeça ainda se encontra cheia de boas caraminholas a seres refletidas e transformadas em interpretações.
A criadora
Dani (Lithos)
Escritor / a
Aluna da Turma XXII
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