
Quando ela se entregou, em nada pensou
Sua liberdade foi trancafiada numa armadilha,
seus desejos impedidos de se aproximarem
sequer dos portões do castelo de areia
Desde criança ela acreditava que a mulher
era um ser sem lugar certo, um sopro invisível
e seus parcos direitos se resumiam em criar,
educar, zelar de todos, menos de si mesma
Quantas noites sonhou em bailar a valsa dos livres,
esvoaçar os cabelos nus serpenteados de estrelas?
Quantas vezes desejou ser a gota d’água que solta
deslizava do lado de fora da vidraça embaçada?
Sem aperceber-se, vivia, até o dia que ouviu dizer
que ela também podia vir a ser, se quisesse. Será?,
que a custa de suor e sangue de bravas mulheres
os direitos de ser mulher foram conquistados
E um dia ela se olhou com tanta força que se enxergou
Suas negras pupilas dilataram, seu pertencer irrompeu, ávido
Viu dentro de si o tamanho da Medusa que se agigantara
e o poder da deusa petrificou o medo paralisante que sentia
Os olhos faiscaram, o corpo gritou e a alma inteira incendiou
Seu horizonte descortinou e um hábil plano de fuga foi traçado
A Medusa se levantou e de salto alto, taça nas mãos, rodopiou
e se lançou sem receio sob o tapete de veludo carmim
Embebedou-se de si e se amou pela primeira vez
Aprendeu a se cultivar e se tornou dona de sua história
Se especializou em proteger sua vida e a liberdade de Ser
Mergulhou nas ondas do mar e foi navegar novos horizontes
Sobre a obra
O poder que a mulher descobre quando consegue enxergar que dentro dela existe uma força tão poderosa quanto o olhar de Medusa, um furor capaz de petrificar todos os medos e levá-la a conquistar lugares inimagináveis.
A criadora

Maristela Martins da Silva
Escritora
Aluna da Turma XXII
Que lindeza!, Você fala por tantas de nós. Abraço e divulgue sua obra tão linda, ela precisa chegar em todas nós. Abraço
Sentindo-me arrebatada pelo texto.